sábado, 30 de agosto de 2008

Sobre o ComuniCurtas

Depois de uma semana de Comunicurtas e observando a incrível capacidade de expressão que uma pessoa pode ter, é possível maravilhar-se com a diversidade e visões sobre inúmeros fatos do cotidiano.
Situações diárias são mostradas através de uma lente comandada por sensibilidade e criatividade que transformam as mesmas em verdadeiros espetáculos visuais. Sutil ou explicitamente estabelecem-se críticas sobre comportamentos patológicos da sociedade como exploração sexual infantil e hábitos “anormais” como o uso de entorpecentes (por exemplo, a maconha).
Outras temáticas polêmicas também são inteligentemente mencionadas tais como o homossexualismo e o ciclo vicioso da vida de um nordestino. A amplitude de temas que o cinema pode abranger, sem dúvida é uma das características mais peculiares dessa arte. Sim, cinema envolve arte, já que mescla percepção e reação aos fatores que interferem na vida de um certo grupo social. Assim sendo, o cinema e sua linguagem possuem um papel fundamental dentro da atual e individual “sociedade”, que se encontra relativamente despreocupada com questões de interesse coletivo. Assim imagens e sons conscientizam e convidam os expectadores a uma reflexão da constante mudança de valores e conceitos, que se enfrenta dia após dia dentro do contexto de uma sociedade líquida, que se desfaz e se transforma com uma velocidade surpreendente.
Parabéns aos diretores, roteiristas, atores, enfim a todos aqueles que contribuíram para a idealização de um projeto tão relevante para a parcela “pensante” da sociedade, ou ao menos para aqueles que tentam fugir da inércia.

sábado, 16 de agosto de 2008

De repente herói

Incrível como um raro gesto de coragem e/ou solidariedade no mundo hipócrita e individualista em que vivemos pode ser desesperadoramente admirável e gratificante até para meros espectadores da situação, como eu.

O que me levou a tocar nesse assunto foi o ato, heróico mesmo, de um garoto chinês de apenas 9 anos, que após um terremoto arrasar a província de Sichuan onde morava, se tornou um dos maiores "salvadores" no local, ajudando a socorrer diversas outras crianças de sua idade.

Num planeta onde uns usam os outros como 'degraus' pra conseguir uma ascensão seja lá de que espécie for, se faz impossível não alegrar-se com uma prova de amor ao próximo como esta. Uma criança mantendo a calma, carregando amigos feridos nas costas, talvez até maiores que ele, fisicamente, enquanto muitas outras pessoas se desesperam, adultos se sentindo impotentes diante da situação, ou o desespero sendo proveniente até da consciência de sua própria covardia; covardia de adentrar nos escombros, arriscando uma "troca", talvez! A sua vida pela de outra pessoa.

"Poucas vezes uma canção mereceu tantos aplausos". Pelo simples fato de não ser comum se ouvir canções vindas de baixo de destroços, provenientes de uma criança soterrada durante duas horas! Isso foi o que Lin Hao convenceu os outros a fazerem: cantar à espera do socorro.

A esse heróizinho (um "inho" utilizado apenas devido a sua idade, jamais minimizando sua ação) restou uma cicatriz na cabeça, que não o deixará esquecer nunca do seu feito, de quantas vidas salvou, que valeu mesmo à pena a sua coragem. Ah, também lhe restou a fama, caiu nas graças do povo, o que fará muita gente admirar, até invejar tudo que ele fez, e sentir vontade de fazer o mesmo por alguém... por um tempo, já que a fama nesses casos não é permanente.

O que me preocupa não é o fim da fama, já que ele vai seguir sua vida, todos vão; e sim o fato de que, quando isso passar, nem todo mundo vai ter uma cicatriz pra lembrar do que pode ser feito de solidário, para o bem do próximo, para o bem comum.


Por Katarina Kelly

Crônica ao contrário

De que eu nunca vou entender o tempo! (00h09min)

Sempre detestei relógios! Eles te escravizam, dão um ar de seriedade desnecessário e te deixam com uma faixa de pele mais clara em um dos braços.

O tempo atrapalha nas provas de gramática, nos sábados à noite e nas segundas-feiras chuvosas. As horas quase não passam quando o tempo está frio e parece não existir tempo naquelas horas quentes. O tempo nos tira o sono... O tempo passa ou passamos por ele? O tempo anda em linha reta e eu adoro curvas.

Não é questão de desconsiderar Einstein, seus cabelos grisalhos e espírito adolescente. É que em minha opinião, relatividade, assim como perversões sexuais, são coisas para Freud. Sempre preferi qualquer coisa à física. Talvez porque muito me incomodam os fatos de dois corpos não poderem ocupar o mesmo lugar no espaço e de não se poder estar em dois lugares ao mesmo tempo.

É bem difícil medir o tempo... Não sei se a medida certa para isso são horas, quilômetros ou aniversários. Quando eu era criança (até antes de ontem), meu aniversário demorava muitos dias para chegar... Mas me disseram que agora eles vão vir rápidos, talvez dirigindo um carro novo. Também se pode medir o tempo com areia, e pra mim esse é o modo mais interessante.

Eu sei que isso não são tempos de se falar de horas, nem hora de se escrever crônicas, mas é melhor falar de tempo que de amor. Por falar nisso, estamos em agosto e não está chovendo... Eu não sou mais o mesmo e o tempo é. E é com a certeza que eu começo a crônica que terminei ontem. (23h27min)

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Sentimento Sincero




Foi quando estava no ônibus retornando pra casa, depois de uma manhã normal de vida acadêmica, que percebi tal cena, tão pura e singela, que mais ninguém reparou. Mesmo assim ela passou o dia a rodear meus pensamentos. Era apenas um menino que estava sentado à minha frente e que acariciava confortavelmente a orelha do senhor sentado ao lado, suponho eu que seja seu avô. Aquela mãozinha discreta de uma criança de apenas uns quatros anos fazia o gesto que me fez recordar minha infância e minha mãe.

Eram pessoas de um semblante humilde, mas que durante alguns minutos mostraram que tinham algo desejado por todos, carinho, respeito e acima de tudo educação. Pois logo em seguida entrou uma senhora no ônibus, que por sinal já estava lotado, sem cadeiras vagas, então o gentil senhor colocou o menino no colo e cedeu o assento.

Fiquei observando e pesando, por que uma cena como essa me abalou tanto? Deveria ser algo normal, mas infelizmente não é. Nos acostumamos a conviver com noticiários que relatam diariamente fatos diferentes, esses fatos sim, que deveriam nos chocar, porém virou algo corriqueiro. Diariamente ligamos a TV e vemos um pai que jogou um filho da janela ou uma mãe que abandonou a filha recém nascida em uma lata de lixo ou um filho que tramou o assassinato dos pais. A vida humana virou algo banal. Incomoda-me imaginar que doces momentos como esse possam um dia chegar a não existir. Contudo a imagem de hoje me renovou as esperanças, ao ver que nem tudo está perdido. Que do mais simples ainda se avista o mais virtuoso sentimento: o amor recíproco. E como é bom chegar em casa e beijar minha mãe.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Relevo Impróprio

A pequena e (não tão) pacata cidade de Campina Grande, Rainha da Borborema. De clima agradável, economia próspera e rica em eventos culturais, sofre também dos males que afligem grandes metrópoles: crescimento de favelas, da criminalidade, do tráfico e do tráfego.

Este último fator, ocasionado por um centro comercial demasiado condensado, desorganizado e controvertido, ultimamente, e com maior freqüência, vem vitimando amortecedores e pneus, órgãos vitais para o bom funcionamento de veículos automotivos, tudo culpa da proliferação exacerbada de uma forma de relevo bastante comum em cidades “entregues às baratas”, tipos incomuns conhecidos popularmente como “buracos”, ou vulgarmente denominados, no atual modelo, “crateras”.

Gerados inicialmente devido à explícita desproporção entre os fatores “verba-para-custeio” e “desvio-de-verba” (também chamado “bolsa-parlamentar”), os tais fenômenos ocorrem em asfalto mal cuidado ou mal construído. As autoridades explicam o fenômeno como uma necessidade pessoal de cada motorista poder externar seus mais profundos sentimentos no trânsito caótico do mundo moderno, aliviando seu stress ao proferir um breve e inofensivo “puta-que-o-pariu” a cada vez que perpassa um dos inusitados declives.

Porém, nada temam caros amigos, pelas conjecturas deste escrevente. É tempo de eleição e os homenzinhos de uniforme alaranjado já ressurgiram para nos defender, capinando o mato e pintando os canteiros. Se não concluírem suas obras em tempo, como costumeiramente ocorre nestes casos, homenzinhos de uniformes alaranjados ou esverdeados voltarão dentro em quatro anos para novamente resgatar a beleza de nossa cidadezinha.

“[...] O governante é sempre um homúnculo em pé sobre uma rolha de cortiça, com seu chapéu de Bonaparte, acreditando e fazendo acreditar que rege o maremoto a seu redor. Governar é manter essa crença.” (Otavio Frias Filho, em Tutankaton).

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

"Figurões" do joranlismo nacional

Vivemos em uma sociedade em que os padrões estéticos superam os intelectuais infinitamente. Uma demonstração dessa superioridade da beleza está no jornalismo, especificamente no jornalismo televisivo. Nomes que fizeram história e comprovadamente são profissionais competentíssimos são colocados em segundo plano para que novos "galãs" do jornalismo nacional figurem ancorando telejornais e programas, nas grandes emissoras do país. Alguns nomes que defenderam a liberdade de imprensa durante os anos de chumbo da ditadura, como Boris Casoy, e tantos outros, como Cid Moreira, que realmente passam imparcialidade e verdade no que falam simplesmente são deixados de lado e colocados como "figurantes" porque estão velhos ou não atendem mais aos padrões que infelizmente regem a mídia nacional.
Não quero, com essas palavras, criticar ou menosprezar um ou outro profissional. Apenas queria expressar minha indignação com uma sociedade que valoriza cada vez mais a beleza e menos o talento, o que faz Lilian Witte Fibe – para mim, uma das melhores jornalistas do Brasil – afastada da televisão? Quem colocou César Filho – com todo respeito – como âncora de um jornal? Embora o SBT não sirva como referência para nada, assim como outros tantos que por ora me fogem da memória.
O grande Vinícius de Morais disse: "As feias que me perdoem, mas beleza é fundamental", se referindo a mulheres, creio eu. Mas essa frase parece que cada dia se aproxima mais do jornalismo no Brasil e, no dia em que uma vaga de emprego para jornalistas for decidida pela face e não pela mente, vai ser o dia em que eu deixarei de acreditar na profissão que escolhi pra mim. Espero que isso não ocorra, mas, se ocorrer, ainda bem que eu sou bonito.

Silas Batista dos Santos