terça-feira, 1 de julho de 2008

O medo é fato, retrato da nossa vida real.


Nas grandes cidades do pequeno dia-a-dia
O medo nos leva a tudo, sobretudo a fantasia
Então erguemos muros que nos dão a garantia
De que morreremos cheios de uma vida tão vazia
Nas grandes cidades de um país tão violento
Os muros e as grades nos protegem de quase tudo
Mas o quase tudo quase sempre é quase nada
E nada nos protege de uma vida sem sentido
(Muros e Grades – Engenheiros do Hawaii)

Atire a primeira pedra quem nunca sentiu medo na vida.

Medo do escuro, medo da prova final de matemática, medo de voar de avião, medo da morte. Esta palavra representa a reação do nosso organismo a uma situação que pode se caracterizar em uma ameaça. O medo é inerente a cada um de nós. Existem as diversas intensidades do medo, que podem variar de uma leve ansiedade ao pavor, à fobia. Mas não adentremos na questão científica do assunto...

Estamos presenciando na atualidade uma situação de violência que assusta a sociedade, em sua maioria acostumada a ver muitos destes casos mais bárbaros em filmes ou em guerras, pela televisão.
Os jornais mostram todos os dias tiroteios, assaltos, assassinatos por vingança, discussões, por alguns trocados ou mesmo sem motivo algum, pais que matam os filhos e vice-versa, brigas de torcidas, guerras.

Fala-se em caos, desordem; enfim, todas estas circunstâncias, as atrocidades cometidas pelos homens, acabam provocando um medo do mundo, mas não o mundo como sendo o planeta, e sim todo o universo criado e desenvolvido pelo homem. Um medo do meio social, medo do outro.
Sendo o medo identificado pela psicologia como um estado de alerta decorrente de uma situação de ameaça, este medo do outro representa um estado de alerta perante os demais cidadãos.

Acontece que este estado de violência já tomou uma proporção tão devastadora, que o simples fato de andar sozinho à noite pela cidade se torna um perigo mortal. A consciência disto está presente em cada um de nós, e é daí que vem esse medo de quando outro indivíduo se aproxima quando estamos no ponto do ônibus, às 8 da noite. Fato é que este outro infeliz também está assustado,com medo de se aproximar muito de você aí, parado.
Além do que se vê na televisão ou nas ruas, a violência chega a nossa casa e intensifica ainda mais o nosso medo do mundo.

Um grupo de amigos, todos adolescentes, estão sentados em frente à casa de um deles, a conversar, numa noite qualquer, por volta de 9 horas, quando do nada aparecem dois sujeitos armados com revólver e os assaltam. Na saída ainda ameaçam de morte um deles. Em algum outro caso, um dos adolescentes mais exaltado poderia se alterar para o lado do assaltante e tomar um tiro, quem sabe fatal.
Estas pessoas que estavam ali, aparentemente tranqüilas, aproveitando seu tempo livre na calçada da rua em que moram, vão passar a estar sempre em estado de alerta, com medo de quem está passando pela rua (e se sentirem coragem para estar pela rua naquele mesmo horário). Vem o isolamento, a sociedade cada vez mais trancafiada e enclausurada, pessoas cada vez mais dentro de casa, com medo de abrir o portão e ser assaltada, estuprada, violentada.

Ao ver tudo isso acontecendo ao meu redor, com meus amigos, na casa ao lado, no bairro, na cidade, no país, fico cada vez mais pessimista em relação a uma possível melhora nas relações humanas, nas condições de respeito à vida, à dignidade. Falamos do governo, porque não faz nada, mas que governo? Qual é o verdadeiro governo? Aquele que se encontra num palácio, cercado de segurança, isolado do país, de todos? Ou o governo que se encontra instalado no alto dos morros, que tem suas leis, sua abrangência, seu poder real? Quem sabe o governo individualista... esse que faz de lei fundamental o dito “cada um por si”?

Sinto que os homens estão se degenerando, se destruindo em todos os aspectos. Ao mesmo tempo, estamos nos fechando para nós mesmos, com medo do mundo, buscando segurança, paz.
Não vejo um final feliz para a história desse mundo. Sinto-me cada vez mais agredido pelo que vejo e presencio no dia-a-dia dos dias de hoje. Espero que minha angústia seja somente pessimismo, mas o rumo das coisas não indica bons resultados.

Espero estar equivocado.

2 comentários:

Taiguara Rangel disse...

"As grades do condomínio são para trazer proteção,
mas também trazem (alguma coisa que não lembro)
se é você que está nessa prisão"

retratos dum futuro promissor.
pior que a violência tem um mercado promissor:
agrada a vizinhança que debate aquele acidente de carro, agrada aos telespectadores que assistem aquela menina jogada da janela; agrada, por fim, quem vende a notícia.

Sidney Andrade disse...

Falou-se do final feliz. De certo o final não será feliz, uma vez que para ser feliz seria preciso que não houvesse final. E se tudo que tem um começo tem um fim (filosofia de Matrix, hein, hehe), é só torcer pra que o nosso não seja doloroso. Mas acabar algo sempre dói.
Enfim, não sou otimista, mas meu pessimismo não é tão apocalíptico. Acho que, uma hora ou outra, a humanidade, ao invés de mudar a situação violenta (desejo dos otimistas), vai mesmo é se adaptar a ela. Nem pior, nem melhor, apenas novas formas de viver.