terça-feira, 17 de junho de 2008

Vida de Cão (em clima de despedida)


Vinicius de Moraes. Poeta, músico, diplomata (nas horas vagas), boêmio, amante do uísque – seu melhor amigo, o “cachorro engarrafado”. Nove casamentos, incontáveis amigos, inúmeros parceiros musicais. Foi poeta e amou na vida.
Ainda assim, foi ele mais triste que os mais tristes. Palavras de quem entendia do assunto:

"Tristeza não tem fim/Felicidade sim"

"Quero dizer-vos minha tristeza/Minha saudade e a dor/A dor que há no meu canto"

"Eu sempre tive uma certeza/Que só me deu desilusão/É que o amor é uma tristeza/Muita mágoa demais para um coração"

"Se tu queres que eu não chore mais/Diga ao tempo que não passe mais"

"Ah, coração, infeliz até quando?/Para ser feliz/Tu vais morrer de dor"

"De repente não mais que de repente/Fez-se de triste o que se fez amante/E de sozinho que se fez contente."

"Ah, meu amor não vais embora/Vê a vida como chora, vê que triste esta canção"

"Sou eu, o poeta, quem diz/Vai e canta, meu irmão/Ser feliz é viver morto de paixão."

"Se não tivesse o amor/Se não tivesse essa dor/E se não tivesse o sofrer/E se não tivesse o chorar/Melhor era tudo se acabar"

"Eu nem sabia o que era o amor/Agora sei porque não sou feliz"

"Me faça sofrer/Ah me faça morrer/Mas me faça morrer de amar"

"É, meu amigo, só resta uma certeza, é preciso acabar com essa tristeza/É preciso inventar de novo o amor."

"Vai minha tristeza/E diz a ela que sem ela não pode ser"

"Eu vou sozinho sem carinho/Vou caminhando meu caminho/Vou caminhando com vontade de morrer"

"Minha alma é triste/Como o chão deste cerrado/Que se estende desolado/Por mil léguas de silêncio e solidão"

"Mas deixe a lâmpada acesa/Se algum dia a tristeza quiser entrar/E uma bebida por perto/Porque você pode estar certo que vai chorar"

"A tristeza tem sempre uma esperança/De um dia não ser mais triste não"

"Tristeza que vai, tristeza que vem/Sem você meu amor eu não sou ninguém."

"Pois seja muito feliz/Infeliz já sou eu/Pra sofrer sofro eu"

"É melhor se sofrer junto/Que viver feliz sozinho"

"Se chegue, tristeza/Se sente comigo/Aqui, nesta mesa de bar/Beba do meu copo/Me dê o seu ombro/Que é para eu chorar/Chorar de tristeza/Tristeza de amar."

Voltando aos cães, deles tiro a conclusão de que a tal felicidade, tão sonhada pelo poetinha, existe de fato.
Quando vejo a explosão de alegria de um cachorro de minha tia, apenas por saber que ela acaba de chegar a casa; ou seu olhar carente, plenamente recompensável com dois ou três afagos – correspondidos com eufóricos abanos de rabo; ou quando vai passear de carro até o petshop, três ou quatro quarteirões; ou quando recebe alguma comida atípica, diferente da ração habitual.
Tantas demonstrações de felicidade, originais e sinceras, levam-me a achar interessante a tal “vida de cão” – portanto, agradeço pelo gracioso adjetivo canino que tanto me oferecem.

Com o perdão das intertextualidades...
Caro Vinicius, você que inventou a tristeza, ora tenha a fineza de desinventar.
Caríssimo Deus, tu, que pra me jogar no mundo tinhas o mundo inteiro, por que me fizeste triste? Por que não me fizeste cão?

Um comentário:

Sidney Andrade disse...

Não sei o que comentar não.
Nunca desejei tanto não ter férias.